Abril Azul: conviver com meu neto autista me fez entender melhor as pessoas

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O Abril Azul levanta a bandeira pela conscientização sobre o autismo. No dia 2, comemorou-se o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, mas como o tema precisa de muito mais atenção, decidiu-se dedicar o mês todo a ele.

Você sabe o que é o autismo? Convive com alguém que é autista? Dependendo da sua proximidade com o transtorno, você sabe mais ou menos do que se trata. Na verdade, o autismo é o Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma condição de saúde associada à dificuldade em duas importantes áreas: comunicação social e comportamento. De acordo com o Center for Disease Control and Prevention (CDC), aproximadamente 1 em 54 crianças de 8 anos de idade nos EUA é diagnosticada com TEA, com dados de 2016, sendo 1 em 34 meninos e 1 em 144 meninas identificadas com autismo – é bastante!

Eu convivo com o autismo porque meu neto Romeo faz parte do espectro e meu filho Marcos Mion está muito envolvido com a causa pela conscientização sobre o autismo. Quando meu neto foi diagnosticado como autista, eu estava na consulta e presenciei o médico firmar o diagnóstico. É sempre um choque, mas meu filho teve uma reação espetacular e passou a encarar o fato de ter um filho autista como uma bênção. Esta postura fez toda diferença.

Na realidade, meu filho teve um papel importante na maneira como o autismo é visto no Brasil. O fato de encarar a vinda de um filho autista como uma bênção e divulgar em todas as mídias que meu neto faz parte do espectro, fez com que muitos pais, irmãos e parentes de autistas passassem a declarar que também tinham um parente autista sem aquela ponta de vergonha que antes existia. Houve uma mudança muito grande na maneira como os parentes de autistas passaram a se comportar. Hoje vejo muitos vídeos em escolas pelo país onde os autistas e seus coleguinhas dizem, sem constrangimento: “Hoje é meu dia: Dia dos autistas!”.

Meu neto sempre foi muito carinhoso, amoroso e muito ligado aos irmãos, pais e avós. Adora dormir na minha casa no fim de semana. A pureza que ele tem chama atenção porque ele é incapaz, por exemplo, de entender uma competição numa brincadeira, de fazer qualquer mal a alguém. Quando criança, era muito tímido e não conseguia participar das festinhas da escola junto com os coleguinhas. Hoje, já com 14 anos, superou grande parte das limitações e, recentemente, fez uma apresentação de sapateado numa festa da escola de dança onde ele estuda. Tem os seus interesses focados; por exemplo, adora o Barney – dinossauro roxo -, e assistir à peça dos Saltimbancos – em que o jumento é a figura preferida. Adora ver fotos e vídeos da família comigo e brincar com jogos no computador. É um garoto alegre e adorável.

Não há apenas um tipo de autismo, por isso cada pessoa tem uma singularidade de acordo com o grau que a afeta. Além disso, sessões de terapia ocupacional, psicologia e fonoaudiologia podem ajudar, principalmente na infância, para que a criança consiga participar de rotinas diárias e se tornar mais independente. Já casos mais severos exigem medicação.

Abril azul: por que falar sobre o tema?

Um dos principais motivos da existência da data e do mês é para a conscientização da população, pois, infelizmente, ainda há um estigma, preconceito e discriminação. A falta de informação, muitas vezes, é um fator relevante, já que temos medo do desconhecido, o que acaba se refletindo no preconceito. Mitos, como o de que determinadas vacinas poderiam ser responsáveis pelo autismo, tomaram o mundo. Entretanto, já se sabe que as vacinas não têm nenhum papel no aparecimento do autismo.

Por isso, precisamos falar sobre essa condição especial e deixar claro que não se trata de uma doença, não há risco de contágio e não precisamos nos afastar de um autista ou excluí-lo da sociedade. Muito pelo contrário, precisamos dar condições para que, cada vez mais, eles possam ter inclusão e ajuda, ou seja, o abril azul é muito mais do que um mês.

Lei Romeo Mion

Em janeiro deste ano, foi sancionada a Lei Romeo Mion, voltada para pessoas com autismo, com nome inspirada no nome do meu neto.

A Lei 13.977 criou a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), que passará a assegurar atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social.

Ficamos muito felizes com essa conquista e por todas as pessoas que por ela serão beneficiadas. Essa foi uma conquista que teve participação importante do meu filho Marcos, um dos melhores pais que conheço, incansável na batalha para que esse projeto fosse aprovado, juntamente com outros pais e associações ligadas ao autismo.

É com orgulho e muito amor que publico este texto, e peço a todos: vamos olhar com amor e cuidado para o autismo. Não só no Abril Azul, mas sempre!