Racismo pode influenciar no risco de hipertensão

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Infelizmente, o racismo se mantém na moda. Continuamente, vemos notícias de injustiça e violência contra negros em todo o mundo – sem contar os episódios que vivenciamos na nossa rotina: racismo velado nos salários mais baixos, nos cargos subalternos, na falta de representatividade e de oportunidades.

E, como se não bastasse tudo isso, um estudo norte-americano nos mostra que afro-americanos têm mais risco de desenvolver hipertensão por causa da discriminação.

Parece pouco viável? Acompanhe comigo!

 

Discriminação e enfrentamento

O estudo foi publicado recentemente, em julho de 2020, e desenvolvido pelo Jackson Heart Study – o Jackson Heart é a maior investigação epidemiológica de um local já realizada; baseia-se na comunidade, em fatores ambientais e genéticos associados a doenças cardiovasculares entre afro-americanos.

O próprio estudo alerta que poucas pesquisas até hoje olharam para a associação entre discriminação e incidência de hipertensão – e eles fizeram um trabalho completo: avaliaram a discriminação cotidiana e a discriminação ao longo da vida. Ainda, se o estresse da discriminação estava associado à hipertensão incidente, e se essas associações diferiam por gênero, idade, atribuição de discriminação e respostas de enfrentamento à discriminação.

O estudo funcionou da seguinte forma:

  •       Foi feito com 1.845 afro-americanos entre 21 e 85 anos sem hipertensão no início;

  •       Eles receberam três visitas dos pesquisadores: em 2000 a 2004; 2005 a 2008; e 2009 a 2013;

  •       Usou-se a regressão de riscos proporcionais de Cox para estimar associações de discriminação com hipertensão incidente – trata-se de um tipo de análise de sobrevivência usada para estimar o tempo até a ocorrência de um evento, muito empregada pelas ciências da saúde, biológicas e engenharias.

Na primeira visita, os participantes que relataram experiência de discriminação no dia a dia, foram solicitados a identificar a estratégia que usaram para lidar com a discriminação de uma lista de 12 estratégias. As respostas foram usadas para atribuir a cada participante um dos três estilos de enfrentamento:

  •       Enfrentamento ativo (falar, tentar mudar, trabalhar mais para provar que estão errados ou orar);

  •       Enfrentamento passivo (aceitar, ignorar, guardar para si, evitar ou esquecer);

  •       Enfrentamento externo / outro (culpe-se, seja violento ou outro).

Os participantes que relataram discriminação ao longo da vida também foram convidados a identificar se usaram cada uma das 12 estratégias. Foi criada uma pontuação média (contínua) das respostas para cada um dos estilos de enfrentamento, somando o número de estratégias que os participantes relataram usar em cada estilo de enfrentamento.

E o resultado?

Durante o período de acompanhamento, 954 (52%) participantes desenvolveram hipertensão. Em comparação com participantes que não desenvolveram hipertensão, aqueles que desenvolveram hipertensão eram mais velhos, menos propensos a ter ensino superior, tinham um índice de massa corporal mais alto, eram mais propensos a serem fumantes ou ex-fumantes e praticavam menos atividades físicas. Os participantes que desenvolveram hipertensão, em comparação com aqueles que não desenvolveram, relataram mais estresse de discriminação ao longo da vida.

Por isso, convido todos a pensar nas suas atitudes. O racismo é irracional e, agora, se prova também que, além de fazer mal à saúde psicológica, afeta a hipertensão – doença que não tem cura. A pessoa que a desenvolve precisa se tratar pelo resto da vida.

Você já parou para pensar se você é o motivo de pressão alta em alguém?

 Black lives matter!

Referência: Forde AT, Sims M, Muntner P, et al. Discrimination and Hypertension Risk Among African Americans in the Jackson Heart Study. Hypertension. 2020;76:715–723