Por que o termo “comorbidade” deveria ser abandonado nos casos agudos de Covid-19

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A palavra “comorbidade” tem sido muito utilizada durante a pandemia do novo coronavírus. Você provavelmente já a ouviu e sabe que determinou, inclusive, os critérios de vacinação pelo Programa Nacional de Imunização.

Entretanto, talvez você não saiba que o uso da palavra é abrangente e ela pode estar relacionada com diferentes interpretações, inclusive para fraudes, que têm acontecido para que pessoas “furem a fila” da vacinação.

De acordo com artigo do Prof. Paulo Lotufo da Faculdade de Medicina da USP, publicado na Folha de S. Paulo, comorbidade é um termo médico para:

  • Condições clínicas simultâneas, mas independentes – câncer de mama e artrite;
  • Concomitantes devido a agente único – fumante com doença coronariana e bronquite crônica;
  • Pelos efeitos tardios de uma mesma doença – diabetes com doença renal e neuropatia.

Outro conceito é o de fator de risco: condição que pode aumentar a probabilidade de uma doença. Por exemplo:

  • A hipertensão, diabetes, colesterol alto e tabagismo não são doenças em sentido estrito, mas são fatores de risco, ou seja, condições que aumentam a probabilidade de doenças cardiovasculares;
  • O tabagismo é fator de risco para câncer de pulmão.

As doenças agudas infecciosas em condições não epidêmicas também têm fatores de risco, como doença falciforme e pneumonia ou tabagismo e gripe.

O que isso quer dizer? Que em meio a uma pandemia, como a da Covid-19, os conceitos de fator de risco ou comorbidade não se aplicam, ou seja, de acordo com o Prof. Paulo Lotufo o termo “comorbidade” pode e deve ser abandonado nos casos agudos de Covid-19.

Com relação a quem deveria ser priorizado para vacinação, o mais adequado é identificar quais doenças teriam sua história natural abreviada caso o portador dessa enfermidade se infecte pelo novo coronavírus, e não priorizar situações que levariam à Covid-19. O Prof. Lotufo exemplifica: pacientes em diálise, tratamento quimioterápico ou radioterápico para câncer, transplantados ou na fila para transplante (rim e fígado, principalmente) – doenças ou medicamentos que reduzem a imunidade.

Assim, a prioridade deveria ser para quem, por ser portador de doença crônica, mas não fator de risco, poderá ter probabilidade maior de internação ou de morte.

Fonte: Paulo Lotufo no artigo da Folha de São Paulo de 23/5/21 chamado “Comorbidade é erro conceitual com impacto indesejado na vacinação”