Em junho, foi publicado um estudo no site British Medical Journal open access sobre a concordância das principais doenças em casais no Japão, usando um banco de dados bastante representativo – o original em inglês está aqui.
Foi o primeiro estudo desse tipo naquele país. Ele foi estimulado pelo fato de que, ao compartilhar influências ambientais, os casais podem desenvolver doenças semelhantes. Assim, os autores buscaram determinar se haveria a concordância de hipertensão, diabetes e dislipidemia (colesterol alto ou gordura no sangue), que são os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, entre casais japoneses.
Mas então você vai questionar: justo no Japão, que propaga ter uma alimentação saudável e é um dos países com a maior longevidade do mundo? Pois é, mas nem tudo são flores: de fato, a hipertensão tem diminuído por lá devido à redução na ingestão de sal que pode ser atribuída a intervenções de saúde pública. No entanto, a ocidentalização da dieta tradicional japonesa aumentou as prevalências de obesidade, diabetes e dislipidemia.
Riscos se espelham, mas são evitáveis
Espera-se que não haja conexão genética entre um casal, mas o fato de morar junto faz com que compartilhe refeições e um influencie no estilo de vida do outro, com bebida, fumo, atividade física e rotinas em geral. Se um não come determinado alimento, raramente ele será preparado para o outro – a tendência é deixar de prepararmos, a não ser que seja algo que o outro faça questão.
E, por isso, quando um dos cônjuges tem hipertensão, diabetes ou dislipidemia, o estudo mostrou que o outro parece ter um risco maior de desenvolver a mesma doença, em comparação com alguém cujo cônjuge não foi afetado. Assim, ao determinar a concordância conjugal para essas doenças, foi possível identificar riscos evitáveis que poderiam ser reduzidos com a mudança de hábitos.
O estudo em questão foi feito com 86.941 – como disse, uma amostra muito representativa! – acima de 40 anos de idade.
E o resultado foi esse mesmo: se os homens têm hipertensão, diabetes ou dislipidemia, suas esposas são suscetíveis à mesma doença com probabilidade de 1,8 vezes para hipertensão, 1,4 vezes para diabetes e 2,5 vezes para dislipidemia. Isso mostra que nós, médicos, precisamos avaliar não apenas a saúde de familiares de uma pessoa, mas também de seu cônjuge. Para promovermos a saúde e a prevenção de doenças, devemos obter informações sobre o cônjuge e até mesmo a rotina do casal. E mais: se identificamos uma dessas doenças em um, podemos rapidamente incentivar que o outro procure fazer seus exames preventivos.
Watanabe T, Sugiyama T, Takahashi H, et al Concordance of hypertension, diabetes and dyslipidaemia in married couples: cross-sectional study using nationwide survey data in JapanBMJ Open 2020;10:e036281. doi: 10.1136/bmjopen-2019-036281