Decidi explicar aqui os diferentes tipos de remédios para a pressão alta para que vocês entendam por que o remédio de um paciente nem sempre é igual ao de outro. Há muitas condições de saúde paralelas que influenciam nossa decisão na hora de definir o melhor medicamento para aquela pessoa; por isso, é essencial que cada um visite seu médico e faça seu acompanhamento.
Em primeiro lugar, é importante saber que o tratamento para pressão alta é empírico porque, na maioria dos pacientes, não sei qual o mecanismo que está elevando a pressão. Assim, dou preferência a medicamentos que sejam bem tolerados e atuem sobre mecanismos que, de modo geral, estão implicados na elevação da pressão.
Além disso, a estratégia que eu emprego para o tratamento da pressão alta é baseada em dois princípios. Inicialmente, administrar medicamentos em doses baixas para evitar efeitos colaterais e, depois, associar medicamentos que atuem em mecanismos diferentes. Utilizando dois ou mais medicamentos em doses baixas, podemos controlar a pressão de praticamente todos os pacientes. Sempre digo: “Não há pressão que eu não controle”. Com os medicamentos disponíveis, podemos colocar a pressão em níveis ótimos sem efeitos colaterais.
Antes de falar sobre os remédios para a pressão alta, um alerta: deve-se evitar a automedicação. Não existe tomar o remédio que sobrou do vizinho; não existe experimentar uma semana o comprimido do seu pai, porque você acha que está com pressão alta e ele já trata a condição. Simplesmente, não existe! Automedicação é um convite para a piora. Exatamente porque cada organismo é único, o tratamento precisa ser individualizado e o seu médico é quem pode saber qual o melhor medicamento para você.
Sei que parece perda de tempo falar sobre isso em um país onde, a cada hora, três pessoas são vítimas de automedicação, segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF). Mas precisamos insistir. Conhece quem se automedica? Pare tudo e alerte essa pessoa já: ela pode estar indo para o caminho contrário do que imagina!
Cada caso é um caso
Listo, a seguir, os remédios para a pressão alta mais comuns para que vocês entendam como a condição global do paciente é importante para a escolha do medicamento. Todos os remédios para a pressão alta são vasodilatadores por diferentes mecanismos:
- Inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA): são medicamentos muito utilizados para o tratamento, pois impedem que o hormônio que aumenta a pressão, chamado angiotensina, seja produzido; a angiotensina é um vasoconstritor, ou seja, fecha os vasos e faz a pressão subir. Quando inibimos a angiotensina, evitamos a vasoconstrição e temos vasodilatação, ou seja, vasos relaxados e, com isso, a pressão abaixa; o principal efeito colateral dos IECA é a tosse;
- Bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA): são medicamentos que também inibem a ação da angiotensina, mas diferente dos IECAs, que inibem a produção da angiotensina, os BRAs bloqueiam a sua ação no receptor de angiotensina e também promovem vasodilatação; são muito bem tolerados e praticamente não têm efeitos colaterais;
- Diuréticos Tiazídicos: são diuréticos suaves que, no primeiro mês, eliminam um pouco mais de sal e água, mas depois abaixam a pressão por mudar a reatividade dos vasos levando a vasodilatação que, como vimos, abaixa a pressão. Não promovem aumento da quantidade de urina habitualmente eliminada. Os principais efeitos colaterais são fraqueza, câimbras e disfunção erétil. Os diuréticos chamados “diuréticos de Alça” são muito potentes e utilizados para provocar o aumento da quantidade de urina e, consequentemente, ajudar a reduzir o inchaço; são pouco utilizados para controlar a pressão;
- Vasodilatadores periféricos e de ação central: são medicamentos potentes que causam vasodilatação por agirem diretamente na parede dos vasos – vasodilatadores periféricos – ou no cérebro, inibindo os estímulos elétricos que causam vasoconstrição – vasodilatadores de ação central; os principais efeitos colaterais dos vasodilatadores de ação central são sonolência e boca seca; os de ação periférica são potentes e podem abaixar muito a pressão;
- Bloqueadores dos canais de cálcio: dilatam os vasos sanguíneos por impedir que o cálcio promova vasoconstrição. Assim, ocasionam vasodilatação que abaixa a pressão; o principal efeito colateral é o inchaço de tornozelo;
- Betabloqueadores: promovem vasodilatação agindo em vários locais, como coração, rins e nervos. Os principais efeitos colaterais são redução dos batimentos do coração (bradicardia), pesadelos e disfunção sexual.
Pelas breves descrições, já é possível perceber como um remédio pode ser ideal para um paciente e, para outro, maléfico. Imaginem o risco de uma pessoa com frequência cardíaca baixa tomar um betabloqueador…
Cada paciente recebe seu remédio de uma forma; por isso, há os que sofrem mais com efeitos colaterais e há os que não percebem alteração após a ingestão do remédio.
E até quando você vai tomar seu comprimido? Possivelmente, até o fim da vida, já que a hipertensão é uma doença crônica, sem cura. Parece ruim, mas não é. A boa notícia é que, se você controlar a pressão, não terá sua vida encurtada e nem as complicações da doença – AVC, infarto e paralisação dos rins. Se houver algum caso em que você deva parar de tomar, é o seu médico quem vai indicar. E, também, se você precisar mudar o tipo de medicamento, adivinha? Sim, seu médico saberá quando e o que fazer.