Eu presenciei a evolução da tecnologia empregada no contato entre médicos e pacientes desde o telefone fixo até o smartphone.
Há muitos anos os médicos e pacientes entravam em contato por telefone fixo. Na época que meu pai clinicava como otorrinolaringologista na década de 1950-60 o médico tinha telefone fixo no consultório e em casa. O paciente que não estava bem ligava e o médico ia até a casa do paciente para examiná-lo e levá-lo para o hospital se fosse necessário. Não se encaminhava o paciente para o pronto atendimento como hoje.
Quando comecei minha atividade clínica os médicos utilizavam o BIP, dispositivo que era colocado na cintura e transmitia o nome e o número de telefone de alguém que queria entrar em contato. Como não havia celular, eu sempre tinha fichas para telefone público, o chamado Orelhão. Recebia a mensagem, parava o carro e ia até o telefone público ligar para a pessoa que tinha enviado a mensagem. Depois o BIP foi aperfeiçoado com mensagens de texto e o paciente podia descrever em texto curto o que estava acontecendo.
Mais recentemente, com o aperfeiçoamento e maior disponibilidade das linhas telefônicas, muitas dúvidas eram esclarecidas com uma simples ligação telefônica. Principalmente entre os pediatras o telefone sempre exerceu uma função importante de orientar e acalmar mães desesperadas com, por exemplo, febre e dor de ouvido dos filhos. Também teve papel importante a secretária eletrônica. Eu tinha secretária eletrônica em casa, no consultório e no meu laboratório no Hospital das Clínicas. Desta maneira, imaginem o trabalho de recuperar os recados de três secretárias eletrônicas!
O celular, no início o chamado tijolão pelo tamanho que ele tinha, facilitou o contato entre médicos e pacientes. Aos poucos os celulares foram diminuindo de tamanho e se tornaram extremamente úteis. Eu sempre forneci o número do meu celular para todos pacientes porque acredito que o paciente precisa poder entrar em contato com seu médico quando for necessário. A minha experiência é que os pacientes respeitam muito o meu tempo e ligam somente quando é realmente necessário e eu atendo sempre que possível. Já atendi pacientes ao redor do mundo enquanto estava em congressos. Não dizia que não estava no Brasil para não os deixar com sensação de estarem desamparados. Lembro que ter atendido uma paciente quando estava visitando o Cabo da Boa Esperança. Ligou, falou sobre a pressão, eu orientei e continuei meu passeio. De outra feita, estava num congresso em Berlim e havia ensinado uma paciente a medir a pressão em casa e ela ligava toda noite para falar sobre a pressão. Consegui controlar a pressão que, segundo ela, ninguém conseguia controlar.
Há muitos anos já não sei mais o que é ficar sem celular e sem poder ser contactado pelos pacientes. Aliás, o que me estressa é ficar desconectado! Certa vez, fui passar uns dias num resort no sul da Bahia que informava que tinha antena para celular. Seriam uns dias de descanso num lugar paradisíaco. Quando cheguei, descobri que não tinha antena para a operadora do meu celular. Voltei para São Paulo no dia seguinte!
Com o aparecimento da internet o e-mail também foi utilizado para contato entre médicos e pacientes. No entanto, em pouco tempo, com o surgimento dos smartphones e do WhatsApp estas orientações passaram a ser feitas por escrita, por voz ou imagem, chegando imediatamente ao médico que pode responder naquele momento ou quando for possível dependendo da gravidade e da sua disponibilidade de tempo utilizando o celular e não mais o orelhão. A comunicação por imagem é menos comum, mas muitas vezes possibilita a análise de algum detalhe que o paciente quer mostrar ao médico. Assim, a comunicação entre médico e paciente se tornou muito simples e objetiva. Além disso, os smartphones estão ampliando a possibilidade do autocuidado, auxiliando na promoção da adesão ao tratamento. Existem aplicativos que auxiliam os pacientes lembrando da hora da medicação, do horário da consulta médica, registrando a pressão arterial e outras variáveis.
Com a pandemia da covid-19, a telemedicina passou ter destaque. Afinal, com as recomendações de isolamento social, a saúde não pode parar. O Conselho Federal de Medicina (CFM), liberou, temporariamente, os atendimentos médicos à distância. Agora, a telemedicina foi incorporada na minha rotina. Na minha prática a consulta a distância funciona muito bem. Logo no início me adaptei com este tipo de contato com o paciente. Como sou especialista em hipertensão e os pacientes medem a pressão em casa, a consulta a distância fica muito prática e adequada.