Um estudo feito no Instituto Forsyth, em Boston, Estados Unidos, com participação brasileira, encontrou forte associação entre a ocorrência de obesidade e a bactéria Selenomonas noxia, encontrada na boca.
A pesquisa, publicada no Journal of Dental Research, foi desenvolvida por Max Goodson com a participação do professor Francisco Carlos Groppo, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Para o estudo, foram selecionados 313 pacientes saudáveis do sexo feminino, que apresentavam sobrepeso ou obesidade de nível 1 (circunferência de cintura entre 80 e 88 centímetros). Os resultados, de acordo com Groppo, apontaram um grau elevado da presença do microrganismo em mais de 90% das mulheres.
– A bactéria foi encontrada em quantidade muito superior ao normal nas pessoas obesas, a tal ponto que seria possível identificar um indivíduo obeso simplesmente pela presença de certa concentração dessa bactéria em sua boca –, disse Groppo.
A contribuição de Groppo para o estudo começou durante seu pós-doutorado, realizado em Boston em 2002. Atualmente, o cientista recebe apoio por meio da modalidade Auxílio a Pesquisa – Regular, com o projeto Efeito da homeopatia e fitoterapia sobre parâmetros morfológicos em alveólo e glândulas salivares de ratos irradiados.
– Esse é o primeiro estudo que aponta uma bactéria da boca como tendo implicação na obesidade. Sabemos que várias outras doenças têm implicação direta com bactérias da boca –, explicou Groppo, que é pesquisador na área de Farmacologia, Anestesiologia e Terapêutica da FOP.
A bactéria Selenomonas noxia não depende de oxigênio para sobreviver e é frequentemente encontrada em pacientes com periodontite.
– Ela não surge do nada. Para se fixar, precisa de condições especiais, que envolvem uma sequência de eventos distintos –, explicou.
Apesar da descoberta, o pesquisador afirma que não é possível ainda tirar conclusões definitivas. – Não dá para saber se é a bactéria que causa a obesidade ou se a patologia é que provoca a alta concentração da bactéria –, disse.
Curiosamente, segundo ele, a Selenomonas noxia é do mesmo grupo de microrganismos que, no passado, foram encontrados no intestino e estavam relacionados com a obesidade. – Além disso, ela está associada também a abortos –, disse.
Segundo Groppo, o estudo poderá servir como indicador para caracterizar uma pessoa como obesa ou não. – Observando a concentração dessa bactéria, é possível diagnosticar se determinado indivíduo é obeso, tamanha a precisão na associação –, afirmou.
O estudo permite levantar algumas hipóteses. – Talvez o organismo dos obesos possa gerar nutrientes específicos para essa bactéria, fazendo com que ela se multiplique além do normal. Também é possível que a bactéria produza substâncias químicas na boca que, uma vez absorvidas, poderiam aumentar a sensação de fome –, disse.
O estudo continuará simultaneamente em Boston e em Piracicaba. – O professor Max Goodson vai estudar a evolução das bactérias nas crianças. E eu vou começar a fazer uma série de testes in vitro –, explicou.
Groppo alerta para a necessidade de cuidados com a saúde bucal. – É preciso frisar para a população em geral a necessidade de procurar atendimento odontológico. Esse estudo é mais uma mostra de que a saúde começa pela boca –, disse
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