O nosso grupo de pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), liderado pela Profa. Claudia Forjaz, publicou em dezembro de 2018, estudo que comparou os efeitos do treinamento aeróbico, de exercícios físicos de manhã e à noite na pressão arterial das pessoas que têm hipertensão, mas que estão devidamente tratadas.
Para realizar o estudo, houve o acompanhamento de 50 homens hipertensos tratados alocados aleatoriamente em três grupos:
Treinamento matinal;
Treinamento noturno; e
Controle.
Os grupos fizeram treinamentos em bicicleta, por 45 minutos em intensidade moderada (progredindo da frequência cardíaca do limiar anaeróbio para 10% abaixo da frequência cardíaca do ponto de compensação respiratória), enquanto o grupo controle fez alongamentos por 30 min.
As intervenções foram realizadas três vezes por semana durante dez semanas. Foi avaliada a pressão arterial no consultório e pela MAPA (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial), além dos mecanismos hemodinâmicos e autonômicos antes e após as intervenções.
A diminuição da pressão arterial aguda foi maior após exercícios realizados à noite do que de manhã. Ou seja, o artigo sugere que exercícios físicos noturnos podem ter um efeito hipotensor maior.
O estudo concluiu que em homens hipertensos tratados, o treinamento aeróbico realizado à noite diminui a pressão arterial clínica e na MAPA, devido a reduções na resistência do sistema vascular e na modulação simpática vasomotora.
Que preguiça de treinar à noite!
Não tenha! Pense que é possível, depois de um dia com suas atividades regulares, jogar energias pra fora, reduzir estresse e ainda perder peso.
Além do melhor controle da pressão aos hipertensos, praticar exercícios físicos oferece muitos benefícios a todos em geral: inicialmente, dorme-se melhor, o que ajuda a combater a insônia – já falamos do assunto neste blog.
Manter o treino no mesmo período do dia ajuda a criar a rotina; em pouco tempo, o seu corpo e mente estarão acostumados a treinar naquele horário, e, mesmo que você não goste tanto assim da atividade, sentirá falta dela. Então, se é para escolher um período, já dê preferência para a noite.
E, por falar em não gostar da atividade, sejamos espertos: não insista em correr se você odeia correr. Procure opções – esportes, como futebol ou tênis, andar de bicicleta, fazer atividades na água e até treinamento circense são possíveis, também em academias e centros de esporte. Pesquise e escolha o que te dá prazer!
Informações adicionais sobre o efeito dos exercícios físicos na pressão arterial
Os autores do artigo citado relatam que o efeito hipotensor do treinamento aeróbico tem sido amplamente relatado na literatura. Uma metanálise clássica, que incluiu 26 ensaios clínicos randomizados com hipertensos, concluiu que o treinamento aeróbico diminui a pressão sistólica em -8 (-11 a -6) mmHg e a pressão diastólica em -5 (-7 a -3) mmHg, com as maiores reduções obtidas com as sessões de treinamento realizadas 2-3 vezes por semana, com duração de 30 a 45 minutos e com intensidade moderada.
No entanto, apesar desse conhecido efeito hipotensor crônico, as reduções da pressão arterial após o treinamento aeróbico variam entre os estudos, e alguns fatores, como pressão arterial inicial mais alta, intensidades de treinamento moderadas a altas e redução de peso concomitante induzido pela dieta, foram identificados como promotores de maior diminuição da pressão arterial. Além disso, até 25% dos hipertensos parecem não responder ao exercício e não demonstram diminuição da pressão arterial devido a características genéticas e/ou outros fatores não reconhecidos. Por esses motivos, outros fatores que potencializam o efeito hipotensivo do treinamento aeróbico devem ser investigados.